quinta-feira, 28 de julho de 2011

É POR ISSO QUE ESTOU AQUI. FLAVIO MARCUS DA SILVA

                                                  
                                                  
                                                2 - É por isso que estou aqui


Foi num domingo nublado e frio, no sítio do meu pai, que tudo explodiu.
A família estava reunida para o almoço. Minhas duas irmãs conversavam com seus maridos na varanda, ouvindo ao fundo um concerto de Mozart. Tomavam cerveja e comiam rodelas de salaminho com limão, enquanto meu pai cuidava do jardim e minha mãe coordenava os trabalhos na cozinha.
O Rui, casado com a Alice, minha irmã mais nova, é professor de Química e tem 35 anos. Já o Damásio (marido da Lúcia, a mais velha) é senador: 48 anos, extremamente arrogante e violento, mas com um atrativo que, para a minha irmã, faz valer a pena até os pescoções que ela ganha dele de vez em quando, bem como as amantes que ele carrega para todo lado: um patrimônio de mais de 100 milhões de dólares – o que contrasta cruelmente com a situação do meu outro cunhado, o professor, que há dez anos paga (a duras penas) o financiamento de uma casa na Caixa Econômica Federal, equilibrando o orçamento familiar sem a ajuda de ninguém, pois a Alice, como eu, é depressiva, tem síndrome do pânico e não trabalha (nem em casa).
Alice e Rui têm uma filha de sete anos, a Carolina, uma criança linda, mas triste e abatida, sem entusiasmo para a vida. Quando eu lhe dou um chocolate, por exemplo, ela sorri como se os músculos da sua face obedecessem a um estímulo meramente mecânico: como se um homem invisível lhe puxasse os lábios com duas ou três cordinhas, e depois movimentasse, com outras oito ou nove, seus bracinhos frágeis, na encenação de um abraço.
 Já a Ludmila, de oito anos, filha do senador, é de dar medo: má até não poder mais (se é que eu posso dizer isso de uma criança de oito anos). Uma vez, no sítio, ela pegou os três canários que o meu pai mais gostava (eles viviam soltos, indo à gaiola só para se
alimentarem) e colocou-os vivos no congelador, deixando-os lá a noite inteira. De manhã, ela retirou os pobrezinhos (convertidos em pedra), embrulhou-os num papel de presente, com fita e tudo, e entregou ao meu pai, que quase teve um colapso (mas logo apareceu minha mãe, que controlou a situação e abafou o caso). É uma menina mentirosa, mas não como a maioria das crianças. Suas mentiras são caluniosas, venenosas, minuciosamente arquitetadas, cheias de detalhes, e encenadas com perfeição: uma excelente atriz, não há a menor dúvida.
Desde muito pequenas, as duas primas estão quase sempre juntas. Alice faz questão que a sua filha frequente a casa do senador e participe da vida de Ludmila. Esta, por sua vez, já deixou claro para todos nós, várias vezes (quase sempre aos gritos, na hora do almoço, com toda a família reunida), que ela odeia a Carolina. O senador e sua esposa, incapazes de perceber a crueldade por trás daqueles olhos infantis, paparicavam a menina, dizendo:
 “O que é isso, filhinha... Não diga uma coisa dessas. Ela é sua prima”. Ao que a filhinha respondia: “Ela não é minha prima, não pode ser. Ela é feia, magrela e burra; não sabe brincar com as coisas que eu gosto, do jeito que eu gosto. Ela não tem nenhum brinquedo legal, não sabe jogar os meus jogos, e as roupas dela são feias. Eu odeio, odeio, ODEIO essa menina”. A Carolina ouvia tudo, sem dizer nada. E seus pais, mergulhados num silêncio constrangedor, demonstravam indiferença, como se aquilo fosse algo normal. E eu, dopado com meus remédios para depressão e ansiedade, ficava lá, bebendo meu vinho, também sem dizer nada.
Mas hoje, pensando nisso, eu vejo que aquela situação me preocupava, pois no dia seguinte a uma dessas cenas, eu comecei a prestar mais atenção nas minhas sobrinhas, interessado em descobrir se o que eu supunha ser uma espécie de tortura psicológica sofrida pela Carolina tinha alguma coisa a ver com o seu estado patológico de tristeza e melancolia. Na entrada da escola, por volta de treze horas, o motorista do senador parava o carro suavemente, bem em frente ao portão, e do banco de trás saltava a Ludmila, quase sempre emburrada, seguida pela prima, que ia de carona com eles todos os dias. A bruxinha batia a porta do carro com força na cara da prima, sem esperá-la descer, como se não tivesse ninguém lá. Essa cena eu assisti por três vezes consecutivas, e conversando com o porteiro da escola, descobri que isso acontecia todos os dias. As duas estudam na mesma sala, mas a Ludmila finge que nem conhece a prima, isolando-a das outras crianças. Quem me contou isso foi uma mãe, que uma vez levantou o problema em uma reunião de pais, sem citar nomes, e foi severamente contestada pela professora. Passei também a observá-las nos finais de semana, no sítio, quando, por falta de opção, a Ludmila aceitava brincar com a Carolina, e ouvi algumas frases ditas quase ao pé do ouvido que me incomodaram profundamente, como: “Você parece uma porca”; “Quem faz o seu cabelo? Que coisa horrorosa!”; “Você fede”; “Eu não quero que você vá à minha festa de aniversário”; “Você é muito burra, sabia?”; “O seu pai e a sua mãe são pobres e vagabundos. Quem disse isso foi o meu pai, que é senador e ganha muito dinheiro”; “Você só tem esse vestido?”; “Eu tenho muito mais brinquedos do que você”; “Rapidinho você vai ter que ir para uma escola de crianças pobres, sujas e fedorentas, que nem você”; “Quando a gente crescer, eu vou deixar você trabalhar de empregada na minha casa, e é você que vai limpar toda a sujeira que os meus cachorros fizerem”. Tudo isso me perturbou muito, mas como eu vivia dopado, não consegui pensar numa estratégia de ação para salvar a Carolina das garras daquela menina malvada.
Foi só naquele domingo, no sítio, depois de cinco dias sem tomar os meus remédios, que tudo explodiu.
As duas primas brincavam embaixo de um enorme pé de pequi, afastado um pouco da casa,e eu fui até lá para investigar. A Carolina estava de quatro. Seu corpo tremia, como se levasse choques elétricos a cada dois segundos, e de seus olhos escorriam lágrimas em profusão, de medo e angústia. A Ludmila segurava uma vara bem fina e comprida, como um chicote, que ela passava suavemente nas pernas e nádegas da prima, gesticulando e falando alto. Cheguei mais perto, tomando o cuidado para que elas não me vissem, e ouvi a Ludmila dizer: “Você não foi uma boa escrava e vai receber agora o seu castigo”.
Não aguentei. Corri até lá, arranquei a vara das mãos daquele projeto de feitor de senzala e, tomado de uma fúria incontrolável, segurei a menina pelo braço, abaixei suas calças e sapequei-lhe a bunda com cinco varadas bem dadas, marcando-a com vergões enormes e profundos. Ela gritava como uma louca, com os olhos pregados em mim, aterrorizada:
“Não, não, não...”; e eu gritava de volta, com os dentes serrados (minha boca espumava):
“Você não pode fazer isso com a sua prima, não pode, não pode...”.
Quando eu terminei a surra, a Carolina já tinha se levantado e corrido até a casa.
Imediatamente apareceu a família toda, cercada por um bando de puxa-sacos, que tinham vindo bajular o senador, como de costume. Dentre eles havia um promotor e um sargento da polícia...
É por isso que estou aqui, nesta prisão, cumprindo o terceiro mês da minha pena por tortura e desacato à autoridade (na verdade, quebrei o nariz do promotor).
Voltei a tomar meus remédios...
E tenho lido muito Dostoievski.
Nota do autor: Toda e qualquer forma de violência contra a criança (seja ela física ou
psicológica) é condenável e injustificável. Problemas comportamentais, como o descrito
acima, devem ser evitados e corrigidos com uma boa educação, ancorada em sólidos
princípios humanitários (quem for cristão, basta seguir os ensinamentos de Cristo), muito diálogo e, se necessário, terapia. Sei que toquei num tema tabu (que pode incomodar algumas pessoas), mas acho que vale a pena levantar uma discussão sobre as possíveis consequências para a sociedade da falta de limites na educação das crianças e adolescentes no mundo de hoje.
                                    
                                          www.nwm.com.br/fms

terça-feira, 26 de julho de 2011

"DICAS DO CHEFE" OS VINHOS FRANCESES

FRANÇA
Os Níveis De Qualidade Dos Vinhos Franceses
Vin De Table - Vinho de mesa
Constituem a maior parcela de vinhos da França: 55% da produção total. São os vinhos de menor qualidade e não podem conter no rótulo o nome de nenhuma região, sub-região ou vinhedo específico, mas apenas a expressão Vin de France.
 Vin De Pays - Vinhos da Terra ou da Região
São de qualidade superior aos Vin de Table, elaborados segundo regras bem restritas e provenientes de regiões não AOC pequenas, como departamentos ou províncias, distritos, comunas ou cidades, dos quais recebem a denominação. Existem 95 diferentes regiões de vin de pays espalhadas por todo o país, mas a maioria (85%) é proveniente do sul do país, especialmente a região da costa mediterrânea, denominada Midi.
 Apellation De Origine Vin Délimité De Qualité Supérieure (A.O.V.D.Q.S.)
Vinhos Delimitados de Qualidade Superior
Provêm de regiões vinícolas também delimitadas, mas de menor prestígio do que as AOC. Constituem o segundo grau na hierarquia de qualidade e representam 1%dos vinhos franceses.
Apellation De Origine Contrôlée (A.O.C.)
Vinhos de Denominação de Origem Controlada
São os vinhos de melhor qualidade, provenientes de regiões delimitadas, dentro das quais existem sub-regiões também AOC, cada uma com sua classificação hierárquica para seus vinhos. Existem cerca de 400 AOC e delas provêm os melhores vinhos da França que, no entanto, correspondem a apenas 29%da produção total do país Algumas das mais de 400 A.O.C. utilizam a denominação Cru para os seus melhores vinhos. Os melhores exemplos são o Grand Cru, Premier Cru, Deuxième Cru, etc. e o Cru Bourgeois, em Bordeaux, e o Premier Cru, Grand Cru e o Grand Vin na Bourgogne.
 Outras Denominações Usadas Para Os Vinhos Franceses
 Vins Mousseux ou Crémants - Vinhos espumantes, como o Champagne. Geralmente os Crémants possuem menos espuma do que os Mousseux.
Vins Petillants - Vinhos  artificialmente espumantes, isto é, gaseificados depois de prontos.
Vins Doux Naturels (Vins Liquoreux) - Vinhos de sobremesa, doces, cujo açúcar é natural das uvas muito maduras ou mesmo passificadas e  extremamente ricas  em açúcar. A fermentação não chega a transformar em álcool todo esse açúcar  que, então, permanece no vinho.
Vins De Liqueur - Vinhos fortificados, isto é, mais fortes, com maior teor de álcool que foi adicionado durante ou depois da fermentação.
 AS REGIÕES
 ALSACIA
Ao contrário das outras regiões vinícolas da França, a Alsacácia não possui uma classificação com divisões em sub-regiões ou locais de produção ("château", "climat", etc.) e só existe uma A.O.C. geral, Alsace. Outra grande diferença é que os vinhos alsacianos, em sua maioria absoluta são varietais, isto é, são elaborados com um só tipo de uva, com predomínio absoluto das brancas.
 As Uvas Pinot Noir; Riesling; Sylvaner; Gewürztraminer; Pinot Blanc; Tokay d’Alsace ou Pinot Gris; Muscat; Gutedel ou Chasselas e Klevner ou Traminer.

BORDEAUX
Esta é, sem dúvida, a região vinícola mais prestigiosa da França, as mais de 20 sub-regiões AOC de Bordeaux, distribuem-se em torno do "Y" formado pelo rio Gironde e seus afluentes, orio Dordogne, ao norte, e o rio Garonne, ao sul.
As principais sub-regiões de Bordeaux são: Médoc, Graves, Sauternes-Barsac, Saint-Emilion, Pomerol, além de outras menos famosas:
 Médoc
O Médoc é o "paraíso "dos grandes vinhos de Bordeaux. Os seus melhores vinhos tintos são provenientes de propriedades denominadas “Châteaux" e constam da classificação oficial, existente desde 1855 e modificada apenas em 1973 para a inclusão do "Château Mouton-Rotschild". Ela  inclui apenas vinhos tintos, distribuídos em cinco classes, em ordem decrescente de qualidade.
  A Classificação  De 1855 Dos "Crus Classés"
“Premiers Crus”
Pauillac - Châteaux: Latour, Lafite-Rothschilde Mouton-Rothschild
Margaux - Château Margaux
Graves  - Château Haut-Brion (único vinho fora do Médoc incluído na classificação)
Ainda existem: Deuxièmes Crus; Troisièmes Crus; Quatrièmes Crus; Cinquièmes Crus.
 Os Crus Bourgeois
“Além dos grandes “Châteaux” existem no Médoc outros excelente vinhos tintos, denominados Crus Bourgeois”. São vinhos de muito boa qualidade, com ótima relação preço-qualidade, sendo que alguns são tão bons quanto os "crus classés" e bem menos caros do que eles. Por terem ficado de fora da célebre classificação oficial de 1885, os seus produtores criaram, em 1962, o Sindicato dos "Crus Bourgeois" do Médoc e sua própria classificação. Os cerca de 170 "Châteaux" que constituem os "Crus Bourgeois" classificam-se ainda em "Grands Crus Bourgeois Exceptionnels", "Grands Crus Bourgeois" e "Crus Bourgeois".
 As sub-regiões : Margaux; Moulis; Listrac; Pauillac; Saint-Estèphe; Saint-Julien; Haut-Médoc
As Uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Sémillon, Muscadelle.
 Graves
Possui seis sub-regiões AOC, a saber: Pessac, Léognan. Cadajauc, Martillac, Talence e Villenave-D’Ornon.
Os melhores vinhos de Graves, também provenientes de "Châteaux", são denominados "Crus Classés" e constam na seguinte classificação oficial, existente desde 1959.
As Uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot, Sémillon, Sauvignon Blanc, Muscadelle.
 Sauternes
Sauternes produz essencialmente vinhos brancos, entre os quais se destacam os vinhos de sobremesa doces e licorosos que pertencem à classificação especial Vin Doux Naturels. São vinhos botritizados , isto é, feitos com uvas contaminadas pelo fungo BotrytisCinerea que faz minúsculos orifícios nas cascas, provocando a evaporação da água e consequente aumento da concentração de açúcar nas uvas que se tornam secas e muito doces (uvas passificadas ou uvas passas).
A grande estrela se Suternes é o Château d’Yquem, considerado o melhor vinho branco de sobremesa do mundo.
A classificação oficial (existente desde 1855) agrupa os melhores vinhos de Sauternes em três categorias de qualidade:
 Premier Cru Supérieur - Château D’yquem
Os demais"Châteaux" estão entre: Premiers Crus e Seconds Crus.
As Uvas Sauvignon Blanc, Sémillon e Muscadelle.
Saint-Emilion
Os melhores "Châteaux” de St. Emilion são tintos e constam na seguinte classificação oficial (de 1969):
Premiers Grands Crus Classés – onde se destacam “ Châteaux:  Ausone e Cheval Blanc”.
Grands Crus Classés - Os demais"Châteaux"
 As Uvas Merlot, Cabernet Franc , Cabernet Sauvignon,  Petit Verdot
Pomerol
O Pomerol inclui  duas regiões satélites:  Lalande-de-Pomerol e Néac.
Ao contrário das outras  principais sub-regiões AOC de Bordeaux o Pomerol  não possui uma classificação (oficial ou extra-oficial) e utiliza predominantemente a uva Merlot (alguns Châteaux fazem vinhos 100% Merlot).
Os  seus melhores vinhos são os tintos, com destaque para os  prestigiadíssimos Château Pétrus e o novo, porém maravilhoso Château Le Pin, superlativos, tanto na qualidade como no preço, e  estão no mesmo nível dos "Premiers. Crus" do Médoc.
As Uvas
Merlot , Cabernet Franc , Cabernet Sauvignon,  Petit Verdot
BOURGOGNE
Situada na região centro-leste do país, divide com Bordeaux o título de mais famosa região vinícola da França. A maioria de suas sub-regiões extendem-se entre as cidades de Dijon, ao Norte e Lion, ao sul. A exceção, que está separada das demais, é a sub-região de Chablis, situada a noroeste de Dijon.
Ao contrário de Bordeaux, onde os tintos constituem a maioria dos vinhos mais famosos, a Bourgogne possui grande número de brancos superlativos.
As AOC na Bourgogne podem ser divididas em:
a - regional (Bourgogne, Bourgogne Grand Ordinaire);
b - sub-regional (exs: Côte d’Or, Mâcon, Beaujolais, etc);
c - distrital, municipal ou comunal (ex: Côte-de-Nuits, Chambolle-Musigny, Nuits-Saint-George, Gevrey-Chambertin, etc.);
d - de um "climat”, isto é, um vinhedo ou parte de um vinhedo (ex: Gevrey-Chambertin Les Varoilles);
e - especiais relativas a vinhos elaborados por tipos especiais de vinificação (Bourgogne Passe-Tout-Grains, Bourgogne Aligoté, Bourgogne Rosé, Bourgogne Clairet e Crémant de Bourgogne).
Chardonnay, Pinot Noir
  Quatro são as sub-regiões:
1. Chablis; 2. Côtes D'or; 3. Côte Chalonnaise; 4 . Le Mâconnais
As Uvas Chardonnay; Pinot Noir; Aligoté.
BEAUJOLAIS
O Beaujolais produz essencialmente vinhos tintos e apenas recentemente começaram a ser produzidos vinhos brancos nas AOC Beaujolais e Beaujolais Villages. As  cinco AOC do Beaujolais são:
 Beaujolais Primeur ou Nouveau - Vinhos produzidos, a partir da uva Gamay, por um processo especial e mais rápido que os convencionais, denominado maceração carbônica, entre setembro e novembro, quando já são comercializados. São vinhos leves, frutados, para serem consumidos jovens (no máximo um ano), e à temperatura de 10 0C.
 Beaujolais - É uma AOC genérica e pode ser usada vinhos provenientes de vinhedos da parte sul da região (Bas-Beaujolais).
Beaujolais Superieur - Vinhos provenientes de qualquer ponto da região e que apresentem teor alcóolico superior ao da AOC anterior, mas não se prestam à guarda prolongada.
Beaujolais-Villages - Provenientes de 37 comunas específicas, a maioria delas ao norte, são vinhos que possuem uma gradação alcoólica um pouco superior e que podem envelhecer um  tempo um pouco maior que os das AOC anteriores.
Crus de Beaujolais - Vinhos superiores, elegantes, mais encorpados, com maior capacidade de guarda e provenientes de dez AOC, a saber: Moulin-a-Vent, Fleurie, Chirouble, Juliénas, Brouilly, Côte de Brouilly, Chénas, Morgon, Saint-Amour e Régnié. No rótulo não trazem o nome Beaujolais, mas apenas o nome da AOC e, às vêzes, a expressão Cru de Beaujolais. Os dois primeiros da lista citada são considerados os melhores Crus do Beaujolais. O Moulin-a-Vent, é considerado O Rei do Beaujolais por ser mais "másculo" (encorpado e potente). Já o Fleurie é conhecido como A Rainha do Beaujolais por ser mais "feminino" (delicado e sutíl).
 CHAMPAGNE
Situada a noroeste de Paris, em torno das cidades de Reims e Epernay, no vale do rio Marne
A Classificação Quanto Ao Teor De Açúcar - Na fase final da elaboração é adicionado o chamado licor de expedição ao vinho que já sofreu a segunda fermentação. Esse licor é uma mistura de vinho e açúcar, na proporção de 750 gramas por litro, e dará a concentração final de açúcar do champagne. Dependendo da quantidade de licor de expedição adicionada, os champagnes pode ser: extra-brut ou brut zéro ou brut intégral (bruto), quando não receber licor; brut (seco), quando receber apenas 1% de licor; extra-sec (extra-seco), 1 a 3%; demi-sec (meio-seco); 3 a 5%; doux (doce), 8-15%.
 A Hierarquia Das Garrafas De Champagne - A garrafa normal de champagne de 750 ml só foi estandardizada em 1975. Hoje, existem dez formatos em que esse vinho pode ser apresentado, alguns deles feitos apenas sob encomenda. A hierarquia das garrafas de champagne inclui os seguintes formatos:
§         200 ml (conhecida como um quarto)
§         Meia garrafa (de 375 ml)
§         Garrafa normal (de 750 ml)
§         Magnum - 1,5 litro)
§         Jéroboam, de 3 litros, que se usa no pódio da Fórmula 1
§         Réhoboam, de 4 litros e meio
§         Mathusalem, de 6 litros
§         Salmanazar, 9 litros
§         Balthazar, com 12 litros
§         Nabuchodonosor, com 15 litros
§         A casa Drappier ainda tem uma especial, chamada Primat, com capacidade para 27 litros. Feita sob encomenda, custa quase mil dólares
O Status Profissional Do Produtor - Essa informação é muito importante e desconhecida da maioria dos consumidores. Consiste em duas letras bem pequenas, escritas no rodapé do rótulo, a saber:
NM= Négociant-Manipulant - Empresa produtora a quem é permitido comprar uvas ou vinhos (para assemblages) de outros produtores e utilizá-los em seus champagnes. Todas as marcas mais famosas são NM.
RM = Récoltant-Manipulant - Pequeno produtor a quem é permitido utilizar até 5% de uvas de outros vinhedos.
CM = Coopèrative de Manipulation - Cooperativa que produz e comercializa o seu champagne.
 RC = Récoltant Coopérateur - Pequeno viticultor que não tem os meios de vinificação, produz o seu champagne em cooperativas (utilizando apenas uvas de seu vinhedo ou misturando-as com as de outros) e o comercializa com o rótulo de sua propriedade.
SR = Société de Récoltants - Sociedade formada por viticultores de uma mesma família e que juntam seus recursos.
 MA = Marque d’ Acheteur - muito usada por comerciantes e supermercados inglêses, indica apenas que é uma marca do próprio comprador que utiliza seu próprio rótulo e não o do produtor que fez o champagne.
As Uvas Pinot Noir; Pinot Meunier; Chardonnay.
CÔTES DU RHÔNE
É quase uma continuação da Borgogne ao sul da cidade de Lion. As Côtes du Rhône produzem principalmente vinhos tintos, alguns rosés e também uma pequena quantidade de vinhos brancos.
 
Regiões A.O.C. De Côtes Du Rhône
Côtes du Rhône - usada para os vinhos genéricos quase toda a região.
Côtes du Rhône-Villages - permitida para vinhos um pouco superiores de 77 comunas.
As Côtes du Rhône possuem excelentes vinhos provenientes de dezenove A.O.C. distribuidas do seguinte modo:
A parte Setentrional das Côtes du Rhône está subdividida em dez A.O.C.: Côte Rotie, Condrieu, Château-Grillet, Saint-Joseph, Crozes-Hermitage, Hermitage, Cornase Saint-Peray. Existem ainda três A.O.C. especiais, que são: Clairette-de-Die, Crémant-de-Diee Châtillon-en-Dois.
A parte meridional subdivide-se em dez A.O.C.: Châteauneuf-du-Pape, Gigondas, Lirac, Tavel, Vacqueyras, Côtes du Lubéron, Côtes du Ventoux, Côtes du Vivarais, Coteaux du Tricastin, Coteaux de Pierrevert. Possue ainda uma A.O.C. especial, a Muscat de Beaumes-de-Venise que, na realidade, pertence à A.O.C. especial, a Vin Doux Naturel, onde se enquadram vários vinhos doces franceses.
As Uvas Syrah, Cinsault, Grenache, Mourvèdre, Carignan, Counoise, Gamay e Pinot Noir; Viognier, Marsanne, Roussane, Bourboulenc, Clairette e Muscat
CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE
Situada ao norte da cidade de Avignon, extende-se pelos arredores da cidade que lhe dá o nome e que adquiriu fama por ter sido o local onde foi construído o palácio de verão do papa João XXII, o segundo Papa de Avignon, no início do século XIV. Seus vinhos, predominantemente tintos, são feitos à base de treze uvas: Syrah, Grenache, Mourvèdre, Terrete, Picpoul (essas seis predominam), Cinsault, Counoise, Muscardin, Vaccarèse, Picardan, Roussane e Bourboulenc. São vinhos essencialmente tintos, robustos, de cor intensa e que necessitam envelhecer. Recentemente vêm sendo produzidos vinhos brancos de menor classe do que os tintos.
LANGUEDOC E ROUSSILLON
Situado na região sul, na costa mediterrânea, é constituído por  duas AOC  praticamente continuas: O Languedoc, situado mais a leste e faz limite com o extremo oeste da Provence, e o Roussillon está mais a sudoeste. As cidades de maior destaque do Languedoc são Nîmes, Montpellier, Sète e Bézier e as do Roussillon são Narbonne, Carcassone, Minervois, Saint-Hilaire e Limoux.
Essa AOC produz principalmente vinhos tintos, seguidos dos brancos espumantes, brancos doces, brancos tranquilos secos e rosés.
Languedoc: Blanquette De Limoux; Crémant De Limoux; Limoux; Clairette De Languedoc; Corbières; Costières De Nîmes; Coteaux De Languedoc
Faugères; Fitou; Minervois; Saint-Chinian; Muscat; Carbadès e Côtes De La Malepère
 Roussilon: Côtes Du Roussillon e Côtes Du Roussillon Villages Collioure; Banyuls; Maury; Rivesaltes e Muscat De Rivesaltes.
 As Uvas Carignan, Cinsaut (Cinsault), Grenache, Mourvèdre e Syrah; Bourboulenc, Clairette, Chardonnay, Chenin, Grenache Blanc, Macabeu , Mauzac, Muscat e Picpoul
 PROVENCE
Situada entre os Alpes da Alta Provence e o Mediterrâneo esta região da França está sempre associada ao sol, ao descanso e ao prazeres da boa comida e do bom vinho, tanto ao mar como na montanha.
A AOCProvence localiza-se no sudeste da França e fica circunscrita em um polígono formado pela ligação das cidades de Marseille, Toulon, Saint-Tropez e Nice, no litoral mediterrâneo, e Draguignan, Avignon e Nimes, no interior do país. Mais ou menos no centro do polígono, está a cidade de Aix-en-Provence.
Possui grande variedade de uvas e produz vinhos tintos, rosés e brancos.    As suas principais AOC são Côtes de Provence, Bandol, Coteaux d’Aix, Les Baux-de-Provence e Coteaux Varois.
As Uvas Braquet, Cabernet Sauvignon, Carignan, Cinsault (Cinsaut), Grenache, Mouvèdre, Fuella, Syrah e Tibouren; Bourboulenc, Clairette, Rolle e Ugni Blanc (Saint Emilion)
  SUDOESTE
Situado ao sul da cidade de Bordeaux, extendendo-se a oeste até a fronteira com a Espanha, é uma das regiões de maior tradição enogastronômica da França. Curiosamente, sub-regiões desta AOC estão encravadas dentro da região da AOCBordeaux.
Os seus vinhos são inconfundíveis, pois são elaborados a partir de grande variedade de uvas antigas, hoje raramente encontradas em outras regiões do país.
O Sudoeste engloba as seguintes 17 AOC: Béarn, Bergerac, Cahors,  Côtes de Duras, Côtes du Frontonnais, Gaillac, Haut Montravel, Irouléguy, Jurançon, Madiran,Marcillac, Monbazillac, Montravel, Pancherenc du Vic-Bilh, Pécharmant, Rosette, Saussignac.
Existem, ainda, no sudoeste 07 sub-regiões AOVQDS: Côtes de Millau , Côtes de Saint-Mont, Côtes du Bulhois, Côtes du Marmandais, Entraygues, Fel, Lavilledieu e Tursan.
As Uvas Auxerrois (Cot ou Malbec), Braucol (Fer Servadou), Cabernet Sauvignon, Duras, Gamay, Mansenge, Mauzac, Merlot, Syrah e Tannat.; Arrufiat (Baroque), Len-de-L’el (Loin-de-Loeil), Mansenge Blanc e Mauzac Blanc.
 VAL DE LOIRE
Situa-se na região noroeste da França, ao sul de Paris e ao norte de Bordeaux. Essa AOC compreende o território percorrido pelo rio Loire, começando na região central da França, próximo às cidades de Clermont-Ferrand e Roanne. Daí dirige-se ao norte, margeando o lado oeste da Bourgogne, passa pelas cidades de Sancerre e Pouilly-sur-Loire e vai até a cidade de Orléans. A partir daí, segue um traçado aproximadamente horizontal em direção ao oeste, passando pelas cidades de Tours, Angers e Nantes e desemboca no oceano Atlântico.
Em seu senso estrito, o Vale do Loire corresponde à região entre Nantes e Orléans, enquanto que todo o território percorrido pelo rio e seus inúmeros afluentes denomina-se região de La Vallée de la Loire et Centre.
O Loire é um rio especial,  (la Loire, feminino) e  revela delicadeza, beleza e elegância em toda a extensão do seu vale adornado por lindas paisagens, repletas de castelos e vinhedos, justificando o título de Jardim da França.
Suas principais AOC estão distribuídas em cinco sub-regiões relacionadas com cidades do vale do Loire: Nantenais, em torno da cidade de Nantes; Anjou-Saumur, nas proximidades de Angers e Saumur; Touraine, próxima a Tours; Poitounas cercanias de Poitiers e Neuville-du-Poitou; Centre, região central do país, numa faixa situada entre Sancerre e Clermont-Ferrand .
Nantenais - Muscadet; Rosé De Loire; Crémant De Loire; Gros Plant Du Pays Nantais.
Anjou-Saumur -   Anjou; Anjou-Gamay; Anjou-Village; Rosé D’anjou; Cabernet D’anjou; Coteaux De L’aubance; Anjou-Coteaux De La Loire; Savennières; Coteaux Du Layon; Bonnezeaux; Quarts De Chaume; Saumur; Cabernet De Saumur; Coteaux De Saumur; Saumur-Champigny.
 Touraine - Touraine; Touraine-Amboise; Touraine-Azay-De-Le-Rideau; Touraine-Mesland; Bourgueil; Saint-Nicolas-De-Bourgueil; Chinon; Coteaux Du Loir; Jasnières; Montlouis; Vouvray; Cheverny; Cour-Cheverny; Coteaux Du Vendômois; Valençay.
 Poitou - Haut-Poitou e Thouarsais.
 Centre - Pouilly-Fumé; Pouilly-Sur-Loire; Sancerre; Menetou-Salon; Quincy; Reuilly.
 As Uvas Cabernet Franc (Breton), Cabernet Sauvignon, Gamay, Grolleau, Malbec (Côt), Pineau d‘Aunis, Pinot Noir, Pinot Meunier e Pinot Gris; Chardonnay, Chenin Blanc (Pinot de la Loire), Muscadet (Melon) e Sauvignon Blanc.
 VINS DE PAYS
Conforme já mencionado, os Vins de Payssão vinhos de qualidade inferior aos AOVDQS, mas bem elaborados, segundo regras restritas e provenientes de regiões não AOC pequenas, como departamentos ou províncias, distritos, comunas ou cidades. Existem cerca de 100 diferentes regiões de vin de pays espalhadas por todo o país, mas a maioria (85%) é proveniente do Midi que é a região sul da costa mediterrânea.  Os Vins de Pays correspondem aproximadamente a 15% da produção total dos vinhos franceses.
Existem três categorias de Vins de Pays, segundo a extensão da zona geofráfica onde são produzidos e que lhes dá a denominação:
Vins de Pays Régionaux , provenientes de quatro grandes regiões:
1 - Vins de Pays d’Oc ,
2 - Vins de Pays du Jardin de la France (o Vale do rio Loire),
3 - Vins de Pays du Comté Tolosan ,
4 - Vins de Pays desComtés Rhodaniens .
 Vins de Pays de Départment -  elaborados em 51 Départments (províncias).
Vins de Pays de Zone -  provenientes de 95 zonas de produção (distritos, comunas ou cidades).
 Os Vins de Pays são vinhos simples, mas de caráter, jovens, para consumo rápido, destinados ao consumo do dia-a-dia, não se prestando à guarda prolongada.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"MEUS ESCRITOS" (1) FLAVIO MARCUS DA SILVA

                                            1 – Quatro

A jovem dona de casa acorda todos os dias às seis da manhã, abre a janela do quarto e respira fundo quatro vezes o vento fresco que, àquela hora, mesmo no inverno, sopra silencioso e calmo sobre as casas do bairro, trazendo consigo o cheiro agradável do cerrado selvagem que cerca toda a região.Da janela, ela vai direto ao banheiro, contando suas passadas de forma a alcançar a bancada de granito exatamente no quarto passo.Vencida essa etapa, ela começa a escovar os dentes, contando os movimentos da escova de cima pra baixo, de baixo pra cima, para os lados, pra trás e pra frente, bem devagar,terminando a escovação somente quando conclui quatro séries de quarenta e quatro movimentos cada uma (nem mais, nem menos).Depois, quatro bochechos com água;quatro movimentos com a mão direita em quatro partes do rosto, limpando a pele com  um chumaço de algodão embebido em um produto importado, caríssimo; quatro séries de quarenta e quatro exercícios para os músculos da face, para prevenir rugas precoces; quatro séries de quatorze contrações musculares na bunda, para mantê-la durinha e atraente; quatro escovadas no cabelo (em quatro lugares diferentes do couro cabeludo); quatro sorrisos encantadores olhando para o espelho, para aumentar a auto-estima; quatro movimentos cuidadosos com o papel higiênico (dobrado quatro vezes) no cu, para limpá-lo, depois das necessidades feitas... Quatro isso, quatro aquilo...
E ela está agora na cozinha, preparando o seu café, enquanto o marido se arruma para o trabalho.Como está sempre de dieta, ela só usa adoçante: quatro gotas para o café e quatro para a coalhada. Na xícara, quatro giros da colher para um lado e quatro para o outro. Quatro mini-torradas, quatro pequenos pedaços de melão, e está terminado o desjejum Em seguida, ela abre a geladeira e confere se todos os alimentos estão organizados em grupos de quatro. Na parte dos ovos, é preciso sempre deixar um espaço vazio entre cada quarteto: não pode ser diferente (se sobrar ou faltar ovos, ela resolve o problema eliminando os que precisam ser eliminados). Se há só três maçãs, ela coloca uma pêra junto, para formar um grupo de quatro. Se um produto fica isolado e não há como agrupá-lo (por exemplo: um iogurte pode entrar no grupo da coalhada, mas não no da cenoura), ela o joga no lixo. O lixo representa para ela o espaço da desordem, da incoerência, do desvario. As emanações que dali saem têm para ela um significado aterrador: representam o desarranjo da vida: a indisciplina e o desalinho da maioria da população, em completa desarmonia com as forças que ordenam os quatro elementos da natureza: terra, fogo, ar e água. O lixo é o que sobra do seu trabalho de limpeza e organização: é o que escapa à simetria de sua existência metódica e regular, devendo ser eliminado todos os dias às quatro da madrugada. Ela se levanta às 3:55, posiciona-se em frente ao saco cheio de detritos e diz, baixinho, a palavra FORA quatro vezes. Depois, carrega o saco até a rua, contando os passos em séries de quatro (com uma pausa de quatro segundos entre elas), e deixa-o no passeio. Porém, antes de voltar a dormir, ela lava as mãos com sabão, esfregando-as quarenta e quatro vezes, para se purificar. O marido finge que respeita as regras da mulher, para não enfurecê-la e tornar impossível o convívio entre eles. Mas como ele trabalha o dia inteiro (e quando chega em casa à noite fica até tarde no escritório adiantando o serviço para o dia seguinte ou assistindo a vídeos pornográficos), os poucos momentos de contato com a mulher (quando ele tem que se mostrar obediente às suas diretivas) não o incomodam. De quinze em quinze dias, quando se entregam a um rápido intercurso sexual, ele até se diverte com o padrão que ela se obriga a seguir: para cada quatro gemidos, um gritinho (“ai”, “ui”), devendo o número total de gritos ser sempre múltiplo de quatro. Para ele, a única regra é respeitar o padrão de séries rápidas de quatro estocadas, com intervalos de quatro segundos entre elas.
Mas quando ele está só, em casa ou no trabalho, as normas impostas pela mulher são terminantemente desobedecidas.
Uma noite ela o espia pela janela do escritório e descobre que, enquanto assiste a vídeos pornô na frente do computador, ele se masturba com dois dedos, e não com quatro, como ela o ensinou.E não é só isso. Atenta a todos os movimentos do marido (que ela passa a observar escondida), descobre inúmeras outras faltas imperdoáveis, no banheiro, na cozinha, na saída para o trabalho...
Decide, então, realizar um ritual de limpeza dos mais importantes:
No dia do seu aniversário de quatro anos de casamento (numa providencial quarta-feira, dia de Mercúrio), ela termina sua relação com o marido definitivamente dando-lhe quatro tiros no peito, exatamente às quatro da madrugada. Leva o corpo até o banheiro, onde, com um cutelo, pica-o em 44 pedaços; divide tudo em quatro sacos de lixo, que ela deixa serenamente no passeio, com a agradável sensação de missão cumprida. Fecha os olhos e levanta os braços quatro vezes, dando boas vindas ao sol que se ergue por trás dos jatobás, pequis e ipês, trazendo, com seu brilho e calor, a esperança de uma nova vida.
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